sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


UFC - Universidade Federal do Ceará
  Instituto UFC Virtual
  Pró-Reitoria de Pós-Graduação
  Coordenadoria de Pesquisa, Informação e Comunicação de Dados
  Divisão de Planejamento e Ensino
  Curso: CFCT - Curso de Formação Continuada de Tutores Turma 2012/2
  Turma: T-21 - MEC/SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
  Aula 04 - Avaliando nossa Prática - Criação de Aula (s) com Atividades no Blog Diário de Bordo / Fórum e Chat (p/ postagem nos portfólios privativos)
  Coordenação - Dra. Raquel Santiago Freire
  Professor Formador: Fernando Antonio de Castelo Branco e Ramos
  Cursista: Maria Lourdes dos Santos
  Data: 07 de dezembro de 2012

AULA SOBRE “HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS”


Para falar em direitos, antes devemos saber o que são direitos humanos, lembrando que, os direitos humanos são o resultado de uma longa história de lutas dos povos.
            Por direitos humanos entendemos que sejam todos os direitos, de todos os humanos, de todos os povos e de todos os indivíduos, sem qualquer distinção de cor, raça, sexo, religião, nacionalidade e ideologia. Para Salgado (2008, p. 7) “Os direitos humanos são matrizes de todos os demais; direitos sem os quais não podemos deixar de exercer muitos outros”.
            A primeira nomenclatura sobre direitos do homem, surgiu por volta do século XVI, quando bastava ser homem para possuir direitos e poder usufruí-los. Entretanto, à expressão “homem” causou desencontros, tendo em vista que os direitos devem contemplar  a pessoa humana. A partir de então, os direitos do homem passaram a ser chamados de direitos fundamentais, que se referem ao plano constitucional e visam assegurar e proteger os direitos inerentes a cada ser humano, para que possam usufruir de uma vida digna.  Segundo Fachin (2009, p. 36) São Tomas de Aquino foi quem, pela primeira vez, proferiu a expressão dignitas humana, afirmando que “[...] a  dignidade é inerente ao homem, como espécie; e ela existe in actu só no homem enquanto indivíduo”. Assim, os direitos humanos figuram no plano internacional.

Para BOBBIO (2004, p.5) “os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declaração de Direitos) para finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos universais”.

Para Louis Henkinl (apud, AVANÇOS, 2006), a história dos direitos humanos pode ser dividida entre antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Esses direitos  passaram a ser mais discutidos pela comunidade internacional, e não somente pelo Estado, como antes,  temendo outras guerras e a proliferação de atos terroristas.Cria-se a Organização das Nações Unidas (ONU) a fim de estabelecer e manter a paz no mundo, assim como um código comum de ação composto por parâmetros globais (PIOVESAN, 2006). A Segunda Guerra Mundial significou a ruptura com os direitos humanos e o pós-guerra deveria significar sua reconstrução.
            A Carta das Nações Unidas, em 20 de junho de 1945  expressa a vontade dos
povos [...] em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra; proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor da pessoa humana, na igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grande e pequenas; em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa maior liberdade”.
            Sendo assim, a temática direitos humanos ganha importância ao longo da história, pela necessidade de observância e proteção da dignidade da pessoa humana, já na busca de sua universalização, ou melhor dizendo, de todos os povos e em todo o mundo. Portanto, faz-se necessário acompanhar sua evolução a partir das inúmeras demandas que surgem cotidianamente na vida dos indivíduos.
            Alguns eventos ocorridos destacam-se, de algum modo, transformado a história de um povo e, ao mesmo tempo, influenciado outras nações. Um exemplo é a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, sendo a  primeira organização internacional que abrangeu quase a totalidade dos povos da Terra, ao afirmar que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
Tal declaração agregou toda a riqueza dessa longa construção teórica, ao proclamar, em seu Art. VI, que todo homem tem direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa (COMPARATO, 2005, p. 32). Assim, a Declaração Universal
permanece até hoje como uma ferramenta inspiradora do conhecimento sobre questões concernentes aos direitos da humanidade.
            Constam-se, também, as declarações de direitos da América do Norte, principalmente na Constituição Americana, em 1787, e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada em 26 de agosto de 1789, sendo as que mais influenciaram as constituições do século XIX (RUBIO, 1998).
            Ainda à luz do pensamento de BOBBIO (2004, p. 30) “sem direitos do homem reconhecidos e protegidos não há democracia; sem democracia não existem as condições mínimas para a solução pacífica de conflitos”. Portanto, não nos basta termos direitos, é preciso assegurá-los a todas os seres humanos.

Para melhor compreensão sugiro ver os filmes:
A história dos Direitos Humanos (legenda)

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

A história dos direitos humanos no Brasil pode ser considerada como obra de todos aqueles que, por meio de revoltas, rebeliões e insurreições lutaram contra a estrutura de dominação, vigente durante séculos e que ainda persiste em vários aspectos, principalmente no que concerne às desigualdades sociais. Entretanto, a temática dos direitos humanos ganha visibilidade a partir do Golpe Militar de 1964, “até então, mesmo um conceito, como o de direito ficava relegado ao plano do direito, como se tivesse apenas uma dimensão jurídica”. (SADER, 2007,  p. 75).
            Tal condição estava amparada, também, pelo governo de João Goulart, ao destacar a economia como encarregada de arrastar a promoção dos direitos dos que eram transferidos da situação de informalidade para a de direitos trabalhistas, com destaque o Nordeste – para o Centro-Sul, seja para o setor secundário ou terciário. Na época, mesmo a alocação no setor de serviços costumava representar contrato de trabalho. (SADER, 2007).
Durante anos tratou-se na história brasileira de promoção dos direitos das pessoas, porém visavam apenas questões como “Direito a carteira de trabalho e, com ela, a assistência social, a aposentadoria, a organização sindical, ao apelo à Justiça para a defesa dos seus direitos. Direitos econômicos e sociais, que transformaram milhões de brasileiros em cidadãos, isto é, sujeitos de direitos”. (SADER, 2007, p.76), herança do Governo Vargas e que perdurou até 1964. Porém, esse foi um período marcado pela violência no campo, assassinatos de trabalhadores, dirigentes sindicais rurais e das Ligas Camponesas, considerados como violência do latifúndio e seus grupos armados, para perpetuar seu poder na posse dos latifúndios. Essa situação é interrompida pela ditadura militar de 1964, que  fechou um período da história brasileira.e abriu outro. Por mais de vinte anos, uma parcela significativa do povo brasileiro teve seus direitos tolhidos, os direitos humanos negados e, consequentemente, a democracia sofre uma ruptura. Nas palavras de Sader (Ibid, 77)

A repressão aos sindicatos, a prisão de líderes sindicais, a proibição da existência da imprensa sindical e opositora faziam com que a repressão fosse funcional à política favorável ao grande empresariado e contra a massa da população – que vivia de salários e fomentava, até ali, a extensão do mercado interno de consumo. Esse novo contexto histórico combina Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos violação dos direitos econômicos, sociais e políticos de forma intensa, como o país nunca havia conhecido.           
                                                               
     
A ditadura afetou consideravelmente a dignidade humana, pois aboliu qualquer forma de expressão democrática, de cidadania e de direitos humanos, além de torturar, banir e eliminar cidadãos e tantos outros sofreram com o arrocho salarial e com a concentração da renda nas mais dos mais ricos, fortes e dominantes.

Somente em 1985 o país inicia a transição de ditadura militar para democracia, tendo como marco a Assembléia Nacional Constituinte que mobilizou a população, para a elaboração da Constituição de 1988.

A Constituição do Brasil de 1988 é uma das mais progressistas do mundo.

“Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”, diz o Art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de  1988

O país renasce das cinzas na esperança da garantia de seus direitos. A nível nacional, comissões de direitos humanos, compostas por juristas, por membros da Igreja Católica, do meio universitário, de movimentos sociais, foram incorporados ao campo das lutas políticas, dos debates, das denúncias, das matérias de jornal, de trabalhos acadêmicas. Desse modo, a temática direitos humanos passou a disputar espaço no discurso hegemônico, no plano nacional. Nesse campo as mudanças foram surgindo.
Promulgação da Constituição Brasileira de 1988 – A Constituição Cidadã

Mas, a mudança mais significativa foi o lançamento, em 13 de maio de 1996, do Plano Nacional de Direitos Humanos – PNDH pelo Governo Federal e a criação da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, vinculada ao Ministério da Justiça, diretamente ligada à Presidência da República. O PNDH foi seguido pelos programas estaduais que disseminaram a cultura e a linguagem dos direitos humanos em parte do País, transformando-os na principal diretriz para as políticas públicas.

Assim, a forma dos direitos humanos se transformou, nas últimas décadas, na linguagem da esperança social, como nas palavras de Boaventura dos Santos Souza (2009, p. 11) “É como se os Direitos Humanos fossem invocados para preencher o vazio deixado pelo Socialismo ou, mais em geral, pelos projetos emancipatórios”
            Na atualidade, os educadores aos direitos humanos podem entrar em ambientes antes negados, como as prisões e outros, participam de um novo circuito nacional e internacional (ONU, UNESCO, Conferências mundiais), na tentativa de uma linguagem e uma conceituação mais abrangente, como: meio ambiente, direitos dos homossexuais, direitos das/os profissionais do sexo, do negro, do índio, da mulher e outros segmentos considerados minoritários, como questões que entram nas preocupações dos educadores. Hoje, praticar, incentivar, conhecer, questionar, investigar, denunciar, informar, divulgar sobre os direitos da pessoa humana é um dever nosso de cada dia. Sendo assim, não pudemos cruzar os braços, precisamos reagir frente a qualquer injustiça humana e exigir as providências cabíveis, ou seja, o respeito à dignidade da pessoa humana. Esse é o nosso papel como educadores e como cidadãos, pois só assim teremos o Brasil que tanto desejamos.



















Ver o filme Eles não usam black tié.
A história dos Direitos Humanos (legenda)


REFERÊNCIAS:

AVANÇOS e desafios. Diário de Natal. Natal, 6 set. 2006. Disponível em: < pesquisa.dnonline.com.br/document/?view=7105> Acesso em: 15 abril 2012

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004. p. 30.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 4. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005.

FACHIN, Melina Girardi. Fundamentos dos direitos humanos: teoria e práxis na cultura da tolerância. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.

PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed., rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006.

RUBIO, Valle Labrada. Introduccion a la Teoria de los Derechos Humanos: Fundamento. Historia. Declaracion Universal de 10 de diciembre de 1948. Madrid: Civitas, 1998.

SADER, Emir Contexto histórico e educação em direitos humanos no Brasil:da ditadura à atualidade”. In: Godoy Silveira et al: Educação em direitos humanos: fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Editora Universitária, 2007, p. 75-83.

SANTOS, Boaventura de Souza. Direitos Humanos: o desafio da interculturalidade. In: Revista Direitos Humanos, 2009, Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Brasília, DF, 2009, p. 10-18)

SALGADO, Joaquim Carlos. Direitos humanos. Direitos de todos. Todos os direitos. In: Manual de Direitos Humanos. 2. ed. Atualizada por Taciana N. C.Duarte. Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2008.

Consultar o Site:
Secretaria Nacional de Direitos Humanos
http://www.direitoshumanos.gov.br/





UFC - Universidade Federal do Ceará
  Instituto UFC Virtual
  Pró-Reitoria de Pós-Graduação
  Coordenadoria de Pesquisa, Informação e Comunicação de Dados
  Divisão de Planejamento e Ensino
  Curso: CFCT - Curso de Formação Continuada de Tutores Turma 2012/2
  Turma: T-21 - MEC/SECADI - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
  Aula 04 - Avaliando nossa Prática - Criação de Aula (s) com Atividades no Blog Diário de Bordo / Fórum e Chat (p/ postagem nos portfólios privativos)
  Coordenação - Dra. Raquel Santiago Freire
  Professor Formador: Fernando Antonio de Castelo Branco e Ramos
  Cursista: Maria Lourdes dos Santos
  Data: 07 de dezembro de 2012


Caros cursistas,

Falar em Direitos Humanos é pensar como a nossa vida em sociedade é marcada por relações de poder, por lutas de superação e opressão, exploração, preconceito e violência.
A história dos povos tem mostrado suas lutas em busca de seus direitos. Em particular, a história do povo brasileiro, não é diferente, sobretudo dos segmentos mais pobres, revela tamanhas desigualdades sociais e o sofrimento provocado por injustiças e pela falta de reconhecimento e garantia de seus direitos.
                        Muitas foram as lutas vivenciadas por setores sociais distintos, como: negros, índios, mulheres, pobres, nordestinos e outros. Algumas conquistas foram alcançadas, mas faz-se necessário continuar lutando, para que outras conquistas sejam possíveis, pois somos todos seres humanos, dignos de respeito e portadores de direitos. Portanto, precisamos conhecer e lutar pelos nossos direitos, pois muitos os desconhecem. Daí, a importância de discutir sobre os Direitos Humanos. Assim, a aula sobre A história dos Direitos Humanos é o ponto de partida do Curso Educação em Direitos Humanos, que ocorrerá no decorrer do semestre.

            PLANO DE AULA
Objetivo geral - Permitir aos cursistas um entendimento preciso, coerente e global sobre a importância dos direitos humanos no mundo contemporâneo. Oferecer conhecimento sobre os direitos humanos, com o intuito de levar ao cursista mais uma ferramenta que contribuirá para dirimir problemas de âmbito escolar, sobretudo no que diz respeito às diferenças.
Objeto: A aula sobre Direitos Humanos tem por objeto a compreensão da rea­lidade contemporânea, por meio do estudo da sua história, seja no âmbito internacional, nacional, seja no âmbito local.
Assim, a aula está organizada em três partes:
1) Histórico sobre os Direitos Humanos (texto expositivo/explicativo) no diário de bordo,
2) Discussão da realidade atual em Direitos Humanos a partir da compreensão de nossos direitos – debate realizado por meio do Fórum,
3) Diálogo realizado por meio do Chat.

Objetivo final – com a exposição do assunto pretende-se desenvolver a capacidade dos cursistas de visua­lizarem o mundo que os circunda com a “lente” dos direitos humanos, no intuito de fortalecê-los nas lutas diárias em suas escolas, sobretudo em casos de desrespeito aos direitos e dignidade da pessoa. Com isso, esperamos que o conhecimento seja mais uma ferramenta de transformação do indivíduo e da comunidade.

b) Metodologia: Elegeu-se a abordagem crítica como elemento permeador da aula sobre Direitos Humanos. Utilizaremos de diferentes métodos que representa um conjunto de possibilidades, tendo como ponto co­mum a efetiva participação do aluno, por meio de comentários sobre os vídeos sugeridos, bibliografia complementar, além do diálogo que se realizará nos espaço fórum e chat.

c) Bibliografia: A mesma que aparece no texto da aula.

d) Formas de Avaliação
Os alunos serão avaliados com base em:
    a) Interesse pela temática - 1,5 pts.
b) Participação em aula - 1,5 pts.
c) Participação ativa no fórum e no Chat - 1,5 pts.
d) Redação final sobre a temática, comentando com clareza sobre o assunto. – 4 pts
e) Fazer uma breve avaliação da exposição da tutora – 1,5 pts.

OBSERVAÇÕES RELEVANTES:
a) Sobre a AULA - será ministrada no início da semana, segunda-feira e o cursista terá até sexta-feira da mesma semana para a realização de suas tarefas;
    - o texto da aula estará no meu Blog Diário de Bordo (blog: mlourdes.blogspot.com),
    - em caso de dúvida, relatem por meio do Forum,
    - ainda podem me telefonar: (85) 9988 27 49 ou 3247 15 59.

b) O FÓRUM - será aberto na segunda-feira e encerrará na sexta-feira, tempo para que todos possam dialogar com seus colegas sobre a temática,
     - todos devem participar ativamente para que as dúvidas, incertezas sejam esclarecidas,
     - as idéias, sugestões, comentários são sempre bem vindos. Portanto, fiquem à vontade e usem bastante do espaço FÓRUM,
      - é a participação de todos vai fazer a grande diferença, de modo que o diálogo possa fluir e dar bons resultados.
c) O CHAT - acontecerá na quarta-feira em dois horários diferentes, para que todos possam participar.
    - o primeiro chat acontecerá das 19 as 20h – 1 hora de duração,
    - o segundo chat acontecerá das 20 as 21h – 1 hora de duração.
A turma deve se dividir nesses dois horários. Por favor, enviar urgente seus nomes, sendo 5 no primeiro horário e 5 no segundo, para que não haja prejuízo para ninguém. Cada grupo terá um moderador e uma moderadora. Dividam-se de modo que todos possam participar. Mandem-me por e-mail os nomes, inclusive dos moderadores que escolherem.
O chat é o espaço para o diálogo e deve suscitar um grande debate. Estimulem a interação, cooperação e o crescimento do grupo e a participação com sugestões/comentários relevantes, por parte dos cursistas. As respostas devem ter qualidade e o cursista quando provocado pelos colegas e pelo professor-tutor deve responder com clareza e elegância. Por favor, todos devem ser claros, objetivos e cordiais entre si, mesmo que sejam discordantes quanto às posições. A pontualidade é sempre bem vista e contará ponto.
 Estou à disposição de todos. Boa sorte...

OBS:
- Fazer a leitura do texto ( no Diário de Bordo),
- Ver os vídeos sugeridos




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O guardador de rebanhos




O guardador de rebanhos  

Num meio dia de fim de primavera 

Tive um sonho como uma fotografia 
Vi Jesus Cristo descer à terra, 
Veio pela encosta de um monte 
Tornado outra vez menino, 
A correr e a rolar-se pela erva 
E a rir de modo a ouvir-se de longe. 
Tinha fugido do céu, 

Era nosso demais para fingir 

De segunda pessoa da Trindade. 
No céu era tudo falso, tudo em desacordo 
Com flores e árvores e pedras, 
No céu tinha que estar sempre sério 
E de vez em quando de se tornar outra vez homem 
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer 

Com uma coroa toda à roda de espinhos 

E os pés espetados por um prego com cabeça, 
E até com um trapo à roda da cintura 
Como os pretos nas ilustrações. 
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe 
Como as outras crianças. 
O seu pai era duas pessoas 
Um velho chamado José, que era carpinteiro, 
E queriam que ele, que só nascera da mãe, 
E nunca tivera pai para amar com respeito, 
Pregasse a bondade e a justiça! 
Um dia que Deus estava a dormir 

E o Espírito Santo andava a voar, 

Ele foi à caixa dos milagres e roubou três, 
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido. 
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino. 
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz 
E deixou-o pregado na cruz que há no céu 

E serve de modelo às outras. 

Depois fugiu para o sol 
E desceu pelo primeiro raio que apanhou. 
Hoje vive na minha aldeia comigo. 
É uma criança bonita de riso e natural. 
Limpa o nariz no braço direito, 
Chapinha nas poças de água, 
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as. 
Atira pedras nos burros, 
Rouba as frutas dos pomares... 
A mim ensinou-me tudo. 

Ensinou-me a olhar para as cousas, 

Aponta-me todas as cousas que há nas flores. 
Mostra-me como as pedras são engraçadas 
Quando a gente as tem na mão 
E olha devagar para elas. 
E depois, cansado de dizer mal de Deus, 
O Menino Jesus adormece nos meus braços 
E eu levo-o ao colo para casa. 
.......................................................................... 
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro. 
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava. 
Ele é o humano que é natural, 
Ele é o divino que sorri e que brinca. 
E por isso é que eu sei com toda a certeza 
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro. 
E a criança tão humana que é divina 
É esta minha quotidiana vida de poeta, 
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre, 
E que o meu mínimo olhar 
Me enche de sensação, 
E o mais pequeno som, seja do que for, 
Parece falar comigo. 
A Criança Nova que habita onde vivo 

Dá-me uma mão a mim 

E a outra a tudo que existe 
E assim vamos os três pelo caminho que houver, 
Saltando e cantando e rindo 
E gozando o nosso segredo comum 
Que é o de saber por toda a parte 
Que não há mistério no mundo 
E que tudo vale a pena. 
A Criança Eterna acompanha-me sempre. 

A direção do meu olhar é o seu dedo apontando. 

O meu ouvido atento alegremente a todos os sons 
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas. 
Damo-nos tão bem um com o outro 
Na companhia de tudo 
Que nunca pensamos um no outro, 
Mas vivemos juntos a dois 
Com um acordo íntimo 
Como a mão direita e a esquerda. 
Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens 

E ele sorri, porque tudo é incrível. 

Ri dos reis e dos que não são reis, 
E tem pena de ouvir falar das guerras, 
E dos comércios, e dos navios 
Que ficam fumo no ar dos altos-mares. 
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade 
Que uma flor tem ao florescer 

E que anda com a luz do sol 

A variar os montes e os vales, 
E a fazer doer aos olhos os muros caiados. 
Depois ele adormece e eu deito-o 
Levo-o ao colo para dentro de casa 
E deito-o, despindo-o lentamente 
E como seguindo um ritual muito limpo 
E todo materno até ele estar nu. 
Ele dorme dentro da minha alma 

E às vezes acorda de noite 

E brinca com os meus sonhos, 
Vira uns de pernas para o ar, 
Põe uns em cima dos outros 
E bate as palmas sozinho 
Sorrindo para o meu sono. 
................................................................................. 
Quando eu morrer, filhinho, 
Seja eu a criança, o mais pequeno. 
Pega-me tu no colo 
E leva-me para dentro da tua casa. 
Despe o meu ser cansado e humano 
E deita-me na tua cama. 
E conta-me histórias, caso eu acorde, 
Para eu tornar a adormecer. 
E dá-me sonhos teus para eu brincar 
Até que nasça qualquer dia 
Que tu sabes qual é. 
.................................................................................... 
Esta é a história do meu Menino Jesus, 
Por que razão que se perceba 
Não há de ser ela mais verdadeira 
Que tudo quanto os filósofos pensam 
E tudo quanto as religiões ensinam? 
                                                                                              

Fernando Pessoa 

                                                                                              (Alberto Caeiro)